sábado, 22 de maio de 2010

Oração do medo de não aprender - Gabriel Chalita

Senhor... No silêncio dessa conversa quero te revelar algo que sei que já sabes: tenho medo, senhor! Não sei por que me sinto envergonhado por não aprender. Tenho tantas dúvidas. Muitas vezes fico a ouvir o que dizem os professores, e parece que não tenho inteligência suficiente para acompanhar. E fico triste, e me sinto diminuído.

Desde criança tive de medo de não aprender. Não sei se eu me comparava aos meus amigos que sabiam mais do que eu. Não sei se eram meus pais que esperavam mais do que eu podia dar. Não sei se era coisa minha mesmo. Só sei que é triste a sensação do não saber; e ainda pior: a do não conseguir aprender. Parece que há um véu que cobre minha inteligência e me impede de saber.

Sei que meus pais esperam muito de mim. Sei que meus professores também torcem para que eu consiga vencer os obstáculos. Mas a cada avaliação vem o medo imenso de não dar certo, além de tantos outros que me habitam. Medo do vestibular, medo da faculdade, medo de que um dia, quando estiver trabalhando, eu não corresponda ao que as pessoas esperam de mim.

Acho que meu grande problema é essa carência que faz com que eu não queira decepcionar ninguém. Tenho medo de que descubram que nada sei, e que por isso não gostem mais de mim ou não me acolham.

Sei que as pessoas gostam dos vencedores, e acho que não nasci para vencer. Se tivesse nascido para vencer, seria mais inteligente, mais rápido, saberia mais as coisas. Mas não é isso que sinto.

Muitas vezes senti que pessoas que estão ao meu lado têm pena de mim. E isso me dá ainda mais tristeza. Parece que descobriram que pouco falo para que não percebam o quanto sou ignorante. E quando vejo amigos meus falando, encantando, juro que me dá um ponta de inveja. Por que será que não recebi os mesmos talentos? Por que será que não nasci com esse dom de falar e de escrever, e de ser rápido na solução dos problemas? Por que será que sou diferente dos outros?

Eu não quero muito, Senhor. Não sonho em ser um novo Einstein ou um Mozart, ou Fernando Pessoa, ou Alexandre. Não sonho em ser um gigante que a história venha a imortalizar. Sonho em ser eu mesmo, apenas um pouco melhor. Apenas um pouco mais seguro de que no meu rincão eu possa ser feliz e fazer feliz o outro. Sei que ninguém dá o que não tem.

E preciso deixar brotar em mim essa semente do conhecimento, para que eu possa, ao me livrar da ignorância, ajudar mais as outras pessoas. Hoje sinto que não consigo ajudar a ninguém porque tenho medo. Medo de dizer alguma coisa errada, medo de ser mal compreendido, medo de não ser ouvido. O que teria a dizer quem sabe tão pouco?
Quando recebo minhas notas, sinto uma angústia enorme. E o pior é ter de responder aos meus colegas, é ter de dizer o quanto tirei. É ter de tornar público o meu fracasso, a minha ignorância. E quando chego em casa, às vezes minto para que não tenham pena de mim aqueles que me trouxeram ao mundo. Sei que sabem que eu pouco sei. Mas nos enganamos mutuamente. E isso não é correto e nem me faz bem.

Senhor, quero mudar! Quero que me ajudes a encontrar em mim razões para acreditar. Eu não posso ser tão limitado. Ninguém é tão limitado que nada aprenda. Deve haver alguma força em mim que me conduza para fora e que me ajude a ser alguém. Tu não me criaste para viver na ignorância ou na incerteza. Talvez seja eu que ainda não entendi o que preciso entender.

Sem confiança em mim mesmo ficarei dentro da caverna, com medo da luz. Tenho medo de que a luz me cegue, e talvez por isso eu me esconda. Mas não quero mais me esconder. Quero saber que sei, e quero ter a liberdade de não viver a vida toda com medo de decepcionar àqueles que me amam. Se me amam, continuarão a me amar. E se não me amam, que fiquem eles com suas expectativas próprias. Quero viver minha vida e existir caminhando com meus pés.

Senhor, ajuda-me! Se sou tua imagem e semelhança, sou inteligente e posso aprender. Se sou tua imagem e semelhança, posso ter segurança e amar e ser feliz.

Obrigado, senhor! Acho que já encontrei o começo da longa resposta que busco nessa vida. Amém. 

Diga...

"Eu te amo". Se tiver dúvida, não diga. 
Se tiver certeza, não economize.

Para se roubar um coração...Luís Fernando Veríssimo

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto,
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.